segunda-feira, 22 de março de 2010

FAIXA-A-FAIXA

MAQUILADORA - MY SILENT VAN GOGH

[por Regis Vernissage]

Se há nessa vida rocker algo que sempre tive enorme prazer em fazer, esse algo é acompanhar de perto o desenvolvimento das bandas que curto. Obviamente não sou o único no mundo a ter esse, digamos, hobby... É bem sabido que isso é coisa de “bitola”, o que se agrava no meu caso por ser capricorniano, mas como não acredito nesse blah de signos, prefiro tecer minhas impressões sobre o novo álbum da Maquiladora que carrega consigo a insígnia de “My Silent Van Gogh”.

O álbum, gravado em apenas um dia e produzido de forma relâmpago em Janeiro de 2010 por Samuel Nonato no Estúdio Connection 3 em Pindamonhangaba (SP) e com uma belíssima arte de autoria do excepcional fotógrafo Stefano Martins, mostra claramente um direcionamento evolutivo da banda, uma obra de transição, uma busca por novos horizontes (por mais clichê isso possa aparecer, é a mais pura verdade), que acaba inevitavelmente traduzindo-se na própria música.


Enquanto o ótimo primeiro disco cheio Parturition era uma continuação natural do primeiro EP, este My Silent Van Gogh, de 9 sons em pouco mais de 24 minutos, se destaca logo de cara pela presença de Henrique Resek no baixo que entrou com muita classe no lugar deixado pela Nynona e colaborou no cd com linhas de baixo interessantíssimas e muito bem trabalhadas, como no caso da We’re A Bunch of Beasts Pushing Each Other For Food, Coitus and Territory (letra genial!) que segue a curta intro “maquila-style” que abre o cd, The Starry Night.

Come To L.A. traz um elemento da evolução citada acima: a desaceleração (para os “padrões Maquila de ser”, se é que isso existe...) com algo bluesy, tranquilão, de boa, sem muita urgência. Aqui já notamos que o instrumento de trabalho da “guitar-heroin” Thaís Naomi agirá com força e peso durante todo o cd. Na mesma pegada, a faixa-título My Silent Van Gogh traz algo que se aproxima de “quase elementos progressivos setentistas” onde subitamente relembramos que estamos ouvindo Maquiladora simplesmente por causa da característica vocal de Thania D, que mais uma vez abusa e brinca de sua inacreditável potência vocal. Quem disse aí que tamanho é documento? Hein?


O experimentalismo e brincadeiras rítmicas continuam em Iceberg que parece ser conduzida pelo ritmo quebrado imposto pela batera de Andrea Marques (outro destaque no cd), na ótima e super bem trabalhada Cheap Perfume – uma crítica corrosiva a certos estandartes impostos pela nossa sociedade de consumo desenfreado e dinheiro fácil – e em Walk Among que lembra, de início, os riffões de Parturition, mas logo descobrimos que tanto suas nuances quanto a não existência de refrões também a colocam no caldeirão experimental Maquilático.

Temos então a espetacular Coffee Or Chocolate (na minha opinião, a Too Much Wine, o hit do My Silent Van Gogh) que entre um riff matador e guitarras rasgadas questiona a eterna necessidade da escolha, seja para o bem ou para o mal, ou o que isso venha a significar. Não importa. O que importa é que som é foda demais e ponto final! (Aquela batera em fade in da volta, no meio do som... o que é aquilo cara?!...) O cd fecha então com a também incrível Loc9Nat que passeia por diferentes atmosferas melódicas / barulhentas e termina ríspida e seca, curta e grossa, após um longo grito doentio e perturbador que te faz pensar em apenas uma expressão: “CARALHO!!!”

http://www.myspace.com/maquiladorayeah
http://www.fotolog.com/maquiladora_yeah

Um comentário:

  1. Valeu, Rejão, pelo carinho e pela atenção de sempre!! E ... Mais uma vez eu digo: seus textos são belamente construídos!!

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