Texto: Regis Vernissage
Fotos: Stéfano Martins
Rumo a mais um Festival Lumière na sempre apazível Pindamonhangaba onde até no inverno a cidade se mostra quente - talvez reflexo da hospitalidade e cordialidade que sempre temos à nossa disposição quando lá - o clima que pairava no ar já era notado desde nossa chegada. Apesar de, logo de início, parecer que alguns imprevistos denotariam que tudo pudesse dar errado (as bandas Difuzz de Suzano e Refluxo de Sampa cancelando ambos suas apresentações nesta noite, praticamente em cima da hora), a gurizada do Coletivo Bequadro Mostarda não se fez de rogada e conseguiu – num mix de rápida articulação com uma boa gotinha de sorte - preencher o vácuo que acabara de formar-se. Assim a local Bristol entrou substituindo a banda suzanense enquanto a sensacional monobanda do Roger Duran aproveitou o vácuo deixado pelo duo paulistano que infelizmente não pode vir, e é com ela que tudo começou, já lá pelas 22h do sábado, primeiro dia de festival.
O grande barato da monobanda é sacar como a flexibilidade e versatilidade do músico é expressada e isso o Roger Duran faz com tranquilidade quando tudo fica calmo, e com um tesão desmedido da porra quando o lance pega fogo. Guita distorcida sob seus braços ligada no talo e rasgando melodias blueseiras, bumbo psicótico sendo esmurrado pelo seu pé direito numa constância macabra dos infernos, pé esquerdo comandando um chimbal alucinático como aquele feto desesperado que está louco pra sair do ventre materno clamando urgentemente por um fórceps, gaita louca e acelerada como uma locomotiva que entra em ação quando ele não está mirando o mic balançante com sua boca para acertá-lo em cheio com sua voz para nos alegrar com seus incríveis blues no melhor estilo John Spencer Blues Explosion – mas claro que isso trata-se apenas de uma minúscula referência. Essa é uma pequena descrição do que um set da monobanda Xtreme Blues Dog pode fazer com e por você. Absolutamente recomendável, nem precisa frisar.
Com a casa enchendo em progressão artimética, tivemos mais um dos ótimos sets dos anfitriões da Seamus brindado os ouvidos dos amigos e curiosos com uma impecabilidade sonora e precisão tamanha que dá gosto de se ouvir e de se ver. Tudo leva a crer que Hate Campaign (uma das favoritas da casa) entrou definitivamente no setlist dos caras que recheou ao lado de When I Quit My Lens e Modern Dance (essa levou a gurizada à piração) o set, aberto com Red e finalizado com uma incrível e devastadora Experiences with Broken Glass com direito a vários e prazerosos minutos de microfonias subsequentes e efeitos praticados ininterruptamente pelos 3 moços das cordas como se tudo fosse terminar ali (ou como se fossem meu sobrinho chapando e hipnotizado pelo wii, ou como se fossem eu mesmo - décadas atrás - chapado e hipnotizado pelo atari) enquanto o moço das peles se divertia nos pratos e contâncias como se fosse um Steve Shelley pindense. Biscoito fino.
Na discotecaria, Gabz Ronconi mostra-se especializado no que quer e gosta de tocar, antes e após todas as bandas. Os exemplos já foram dados em texto anterior e não repetirei-me aqui. Quer saber, vai lá! O fotografista e moço-de-fazer-retratos Stéfano Martins montou uma bela vernissage com obras suas e de KBÇA Corneti e Carol Ribeiro que atraiu a atenção de uma boa parcela de incautos – ou seja, missão cumprida.
Meia noite batendo no relógio, relativamente cedo ainda para uma balada rocker, queimando papinho ali embaixo com queridos até subir correndo ao ouvir os primeiros acordes da furiosamente incrível Popstars Acid Killers, que tem como seu frontman o mesmo Roger Duran que transpira rock por todo lado: seja enquanto canta, seja enquanto rasga sua guita, seja enquanto atropela tudo que encontra pela frente em sua performance arrasadora. Só faltou o mortal. Ou não? Aí o lance funciona assim: ao lado do Roger sua esposa Carol Doro com seu belíssimo baixão semi-acústico e seus longos cabelos loiros segura a onda que vem dele e de um também insandecido Renato Roitman que pode aqui ser facilmente retratado como o Keith Moon paulistano graças à influência certamente herdada. A porrada do PAK falou tão alto na Óbvio que fez com que simplesmente TODOS que estavam lá fora adentrassem ao ambiente fervilhante para verem com os próprios olhos o que era aquilo, enquanto o proprietário Edilson fazia ali uma sequência de fotos destinadas provavelmente ao site da Cervejaria. Sucesso total. Ao final do set, fiz questão de dizer aos 3 PAK’s que eles sim, eram roqueiros de verdade!
E encerrando o sábado numa vibe mais tranquila, a Bristol (que também ficou sujeita a quase não tocar no dia devido a falta do batera original, que foi ótimamente substituido por uma simpática – e alta - baterista) agradou bastante a galera que saiu de casa pra beber um bom róque de eflúvio noventistas em guitarras de riffs dissonantes, em violão de base por vezes ruidosas e por vezes calmas e em uma cozinha esperta, aveludadas por uma linha vocal melódica do ótimo garoto Rubens. Ou seja, saldo final super positivo para um festival que poderia – sim, poderia – ter dado errado pelas inconstâncias iniciais, porém superadas graças às bandas, ao pico e principalmente a galera. Do róque.
04 /07/2010 - Domingo
Bandas: Jane Dope / Maquiladora / Ike (Acting Alone) / Elísio-Sin Ayuda
Texto: Vinícus Pacheco
Fotos: Stéfano Martins
Segundo dia de Lumière e uma dúvida, como eu vou?
Tudo bem, só de descobrir que lá na Cervejaria Óbvio tinha amplificador de baixo já foi um alivio.
Ao chegar a Pinda, fui direto pra casa do queridão Ike, onde Pedrinho e Thami também flutuavam. Tomamos alguns drinks e partimos para a Óbvio. Ao chegar lá, me deparo com show diferentão da Jane Dope. De formação nova, sem Duda (Teclado) nem Marcelo (Guitarra), mas com Eder no controle das 6 cordas, eu cheguei bem na hora da Homeless Duck, que, aliás, é minha música preferida da Jane (A puta).
Com um formato acústico, Andréa com cajón, Regis na maravilhosa guitarra semi-acústica da Thais (Maquiladora) que estava com um reverb cremoooso, Nanda nas 4 cordas e Eder no Violão, fizeram uma apresentação muito gostosa de se ouvir/ver/estar-presente...
Na sequência veio a Maquiladora, em conversa com Henrique no dia anterior, soube meio por cima que a “bluezeira” ia comer solta. Na hora em que ouvi “Too Much Wine” foi o ápice feeling no show, arranjos que mudaram as músicas reinavam, mas todo mundo sabia que era Maquila... Genial.
Entre uma conversa enfumaçada aqui, uma DaDo Bier (que pasmem, estava 2,50) ali, o Ike com seu projeto (Acting Alone) veio acompanhado dos Seamus Pedrinho e Zé. Com sons que já estão gravados e estão no space do rapaz, o repertório foi bem legal, mandando ver Blackbird, creditada a Lennon-McCartney, que rolou no medley com uma de suas músicas, que por sinal estavam muito bem arranjadas com as linhas gordas de baixo do senhor Pedrinho e as baquetadas precisas de Zé Ronconi.
E pra fechar a noite, o que eu espero que não seja o último show da turnê Elísio-Sin Ayuda, subimos ao palco, e já era tarde. Mais de dez horas e agente no esquema mais “power” da noite, com distortion e tudo mais começamos com “Pra lá com nós” bem na moral... Com set curto de 6 músicas, foi bem rápido e ao encerrar com “Advice From A Grandmother Gull” sinto mais uma vez, com dever comprido.
O mais interessante desta noite foi ver duas bandas que usualmente fazem rock com distorções (Jane Dope + Maquiladora) sentarem nos banquinhos para uma vibe totalmente acústica enquanto os projetos que inicialmente são acústicos serem apresentados aqui com guitarras, distorções e formato de banda, como fizeram Ike e o Sin Ayuda (aqui muito bem ajudado pelos rapazes da Elísio).
Sábado agora tem mais Festival Lumière em Mogee dos Creizes. E ai o bicho volta a pegar.
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