Quando chegamos em Mogi, logo em frente ao Divina Comédia, já estavam Régis, os caras do Seamus, e mais uma pá de amigos que foram lá conferir a festa.
E os caras do Bequadro Mostarda fizeram uma divulgação firmeza do evento, teve matéria em jornal, site, lambe-lambe e o escambau.
E aí, pra alegria geral, só ia chegando gente. De todas as direções. Das vezes que tocamos ali no Divina, essa certamente foi a que teve casa mais cheia, galera insana (show com 5 bandas!) e ainda teve um público dos mais acolhedores.
Encontramos tantos amigos e tantas bandas ali que com certeza vai faltar alguém, nos perdoe. Tava o Elmo do Campus VI e seu irmão fã do parmêra (paciência, mas ele é gente boa...rs), o Gabriel (Hierofante Púrpura) que voltou recentemente de uma trip nervosa pela Irlanda, uns trutas de Sorocaba (isso mesmo, os caras foram lá pra Mogi, vai vendo), ah, e fora o zilhão de banda.
Lá dentro do bar, pra vc ter uma idéia, tava embassado pra andar, pra pedir uma cerveja, pra arrumar um canto e ouvir as bandas, desse jeito. Alem dos shows tava rolando discotecagem do Meteoro, barraquinha de venda de cds e uma senhora exposição de fotos.
Quem abriu os trabalhos foi o Jane Dope. O som deles é uma montanha-russa de referências psicodélicas, explosões punx, guitarras duelantes e letras espertas. De repente, um contrabaixo pop-cabulozo deixa um clima soturno no ar, como em “Sadness” e “H.A.T.”. Um teclado insano, pilotado pela incrível Duda. Violões evocando o caboclo-sete-flechas Johnny Cash. Pô, nessas a gente tava ouvindo, bebendo e teorizando: Mogi das Cruzes tem uma cena alternativa muito fudida, bandas com propostas sonoras inovadoras, diferentes do clichê “indie”. Uma safra de vinhos nobres, no caso: Jane Dope, Vício Primavera, Korovas, Accidentes, Hierofante Púrpura, Cafetones, Maquiladora, Conte-me uma Mentira, Cor Séria, Topsyturvy, etc, etc, etc.... Foda.
Depois veio o Jair e seu novo trabalho. Todo mundo sabe, nós do La Carne somos “viúvas” do Ludovic – a ex-banda de Jair Naves. Nunca escondemos isso. Lado a lado com os Ludovics, viajamos de van, bebemos e demos boas risadas, fizemos vários shows – Belo Horizonte, Franca, Curitiba, bares de SP, no Baal...todos eles foram muito marcantes pra nós. O Ludovic fez história. A mistura das desesperadas/delicadas letras do Jair, com os arranjos de uma banda que é(ra) pura pedrada - Hugo, Du, Zic, Febry, puutz... - e as viscerais performances ao vivo... Cara, sem rodeios: cada show nos marcou, e nos ensinou, coisas importantes a respeito daquilo que se convencionou chamar de rocknroll.
Chegou a hora. E o que se viu e ouviu em Mogi das Cruzes, no Divina Comédia, às 3 e pouco da manhã?
Primeiro: Jair tá muito bem acompanhado. Mark Paschoal, um baterista extraordinário. Ali Jr no baixo, mais teclados, guitarra, enfim, um timaço. Ao vivo, as canções ganham cores muito mais fortes que no CD, a temperatura delas se eleva às alturas, as letras ganham imagens claras – e de repente, a gente se vê sobrevoando essa tal cidade de Araguari, reconhecemos sua paisagem, suas ruas e seus personagens, guiados pela voz poderosa/cavernosa do “bardo”, que faz - agora sim - seu pessoal ajuste de contas com o passado.
Jair canta com a mesma paixão e entrega de sempre. A voz fica bem na frente, e podemos entender cada frase da letra. Os mesmos olhos tristes, o mesmo sorriso largo/envergonhado. Jair deixa nós e toda a platéia hipnotizados, totalmente de ouvidos ligados – ameaça explodir, e então, volta à calmaria do seu violão. Foi muito aplaudido, e retribuiu com agradecimentos sinceros. E La Nave Vá, Jair...
Depois, de longe, já que a gente tava afinando os instrumentos, vimos a muvuca se armar durante o show do Seamus. E mesmo tendo tocado com eles há duas semanas - sem querer soar repetitivo - as mesmas palavras do show anterior cabem aqui, gente pedindo sons, berrando os refrões arrasadores, dando socos no ar e inevitavelmente invadindo palco, “A Year without breathing” mais uma vez arrepiou, e daí pra ganhar a galera foi tranqüilo. Boe, Meteoro, Pedro e Zé tão tocando afiadíssimos. Mais um grande show! Seamus não é do Brasil. É do mundo.
Mas o que tava muito claro ali era o quanto que a galera tava a fim de ouvir as bandas e ver os shows. Todas, todas as bandas tiveram momentos no qual o público vinha junto.
E com a gente não foi diferente. Desde a hora que chegamos, descarregamos o carro, bebemos, tomamos ar, demos entrevista, batemos foto, ganhamos cds, conhecemos um monte de gente, enfim, fomos tratados com um carinho que é impossível descrever. E na hora do show, foi o seguinte: ele não sairá tão cedo das nossas cabeças.
Passavam das 5 da manhã e uma pequena multidão ali, urrando e sangrando com a gente, roubando microfone, se jogando pro alto, nos olhando no olho e cantando os nossos absurdos. Conclusão: não se tem como sair ileso de um show em Mogi. Já tocamos várias vezes lá, mas dessa vez foi inesquecível. Obrigado. Obrigado, essa palavra é tão pouco...
Ah, e a gente quer agradecer muito pelo convite do Bequadro Mostarda. E ó, essa empreitada que vocês estão entrando é aquele lance tipo uma misto de Samurai e malandro, saca? Pensar agindo e agir pensando. E aí, lá na frente, quando vocês estiverem de saco cheio de tudo, quando forem mandar tudo à inevitável merda, vocês verão que isso, de fazer o que vocês quiseram, levou vocês muito longe. Filosofia de vida fuckers, “Distraídos venceremos”.
FIM
Lumière sempre divertidíssimo...
ResponderExcluirAh! Se todos os shows fossem assim....
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