quarta-feira, 28 de abril de 2010

RESENHA: FESTIVAL LUMIÈRE no CIDADÃO DO MUNDO (São Caetano do Sul)

Efeitos noturnos do ABC

Texto por Cris Tavelin
Fotos por Daniele Guiral

Um lugar sem placas, com algumas indicações que fazem pobres motoristas caírem na contramão – São Caetano do Sul pode confundir as visitas, mas acho que ninguém se importou com isso no final da noite sábado. A pedida era o Festival Lumière, que aconteceria no Cidadão do Mundo.

E a movimentação começou cedo por lá. Oito horas da noite apareciam os primeiros gatos pingados – entre eles, eu – tomando drinks coloridos em copos de plástico. A rua parecia fazer parte de algum bairro residencial, sensação que destoava apenas com a pichação do muro indicando que “punks do ABC” estiveram por ali. Do outro lado da calçada, estrelas cintilantes nasciam de um possível curto circuito no poste.

Enquanto alguns bebiam e tentavam montar cubos mágicos do lado de fora, a Jane Dope começava a montar o palco para se apresentar. As linhas de guitarra/teclado/baixo, por vezes uníssonas aos vocais, e a variação no tempo das músicas – que remetiam a um grunge perdido no meio de batidas mais dançantes – foram aspectos presentes do início ao fim da apresentação.


Os detalhes mais interessantes ficaram por conta de uma das guitarras: um delay meio atmosférico deixava um som etéreo no ar, quase nostálgico. Lembrei-me de efeitos similares que o Bowie usava em alguns álbuns do final dos anos 70 / início dos 80, a visão de Christiane F. jogada na sarjeta e o barulho de sirenes percorrendo os cantos de uma Alemanha despedaçada por anos de guerras físicas e mentais.

A bateria, em questão de dinâmica, também se destacou, entre momentos de uma calmaria quase lullaby e outros de caixas e pratos "à volonté". Os vocais na Radiograve, que dividem em tom infantil, parecem mais ter vindo de algum filme trash dos anos 80 com crianças psicodélicas e bonecos assassinos (vide a capa do EP deles, talvez diga algo a respeito). Diria que a Jane carrega uma doçura pervertida em suas músicas, alternando momentos viajantes com partes mais simples e diretas.

Na sequencia, os efeitos, antes mais sutis na Jane, viriam com força no Seamus. Deixando de lado definições superficiais como “noise”, “guitar” e todas suas variações, a grandeza do show deles se deu na mescla de baixo e guitarra: enquanto os graves cantavam melodias intensas e bonitas, por um lado, a guitarra principal gritava, escandalosa, do outro. No meio disso tudo, a guitarra base dava apoio aos dois lados, junto à bateria.


É como se a mesma história fosse contada paralelamente, de formas diferentes, criando um contraste entre a angústia cheia de efeitos e a beleza melódica que lhe dava chão. Nessas horas penso que realmente esses dois conceitos – beleza e angústia - andam de mãos dadas.

Em determinado momento, o guitarrista larga as cordas e leva as mãos à cabeça. Na minha inocência de espectadora, achei que fosse algum tipo de performance esquizofrênica do tipo “onde estou”, mas era apenas a microfonia dando seus ataques corriqueiros aos que gostam de pedais de efeito. Nem tudo é tão romântico numa apresentação ao vivo...

Depois do abalo causado pela sonoridade um tanto sensível e áspera do Seamus, o Narcotic Love entrou com músicas mais dançantes, feitas de baixo, bateria e voz mais bases de guitarra e algumas baterias eletrônicas gravadas. Bom para manter o tempo, mas não consigo me empolgar com gravações executadas durante shows, falando especificamente de guitarras.


O mundo já é digital demais e eu sou mal humorada o suficiente para não aceitá-lo com minhas idéias retrógradas de anos 70 e toda aquela coisa de instrumentos espetados direto no amplificador, quase uma extensão das vísceras de quem os toca. Acho que nesse quesito se perde um certo torpor que existe quando uma pessoa empunha uma guitarra – e, cá pra nós, nunca se sabe realmente o que ela vai fazer com aquilo. Mas isso é só minha opinião. As pessoas bebiam e dançavam em frente ao palco, felizes da vida. Ponto pra eles.

Seguindo a noite, o Up Brothers entrou na sequencia com pop-rock cantado em português. No momento em que eles estavam no palco, eu me encontrava do lado de fora, numa conversa que não poderia deixar de ter (o mistério das noites de sábado embaixo de postes de luzes amarelas, existe algo melhor?).


Fui informada por minhas fontes exclusivas e bêbadas que a apresentação “destoou do som esquizóide das outras bandas (nada como adjetivos estranhos para resumir estilos musicais), porém honesto e muito bem executado. Uma palavra pra defini-los talvez seja ‘radiofônico’”. Achei coerente a definição, vou adotá-la.

Por último e para acabar com a expectativa gerada em torno de sua estreia nesse novo circuito (apenas nesse circuito, porque a banda já é de longa data) a Glassbox entra na sua caixa de vidro ambulante e executa sensações estranhas de dentro dela.


Detalhe admirável: são poucos power trios que realmente seguram a onda ao vivo, em qualquer estilo que seja. E quando se pensa nos arpejos incessantes das músicas deles, seguros apenas por um vocalista/guitarrista, isso é quase um milagre. O baterista sofreu até o fim - com ritmos baseados em viradas ininterruptas apoiadas nas peças graves, o tribal contrastava com o chorus e o flanger que não largavam as cordas da guitarra. Melodias percorriam o tempo ficando mais densas ou sutis com a voz aguda as empurrando para frente, num ritmo tenso e nada confortável – uma zona de reflexão incômoda e necessária. É, acho que eles chegaram onde queriam.

Com tantos estilos diferentes na mesma noite, que se casam de alguma forma estranha no emaranhado de sensações que transmitem, pode-se dizer que cada apresentação foi peculiar. E a conexão que se deu entre pessoas que passeiam por tantas vertentes do rock e, por vezes, têm concepções diversas sobre tantos assuntos, foi o ponto alto do evento. As ideias compartilhadas musicalmente e verbalmente devem reverberar muito além desse último final de semana.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

REVOLUÇÃO INTERDEPENDENTE

Texto por Juliano Jubão

Está rolando uma discussão na lista Uai Rock (que em breve mudará de nome pra UAI Música) em que postei o seguinte texto:

Só reverteremos a nossa posição de oposição para situação com muito trabalho organizado.

Por enquanto, por mais que tenhamos uma lista e já estejamos conversando, é só um primeiro passo! Acho que desde que comecei a militar pela música (e olha que isso foi a mais de 10 anos atrás), eu repito a mesma frase: Se você não frequenta o show dos outros, como espera que os outros frequentem seu show?
Claro que tem a tal resposta de que não precisamos frequentar shows que não gostamos.
Mas aí entra a posição de que não podemos tratar mais a música somente como música, somente como arte. Precisamos sim de ser músicos politizados. Se realmente quisermos revolucionar a cena e abrir espaços, teremos de fazer de forma organizada, ou então a situação sempre será a mesma, um monte de gente disputando as migalhas das quartas feiras.

O primeiro fator que faz com que as casas não abram seus espaços pra música autoral é o público. Não adianta falar que os donos de casas são uns capitalistas, os caras, assim como nós, precisam sobreviver. Assim como o pessoal que toca música cover. Acho que temos de ver esses caras com outros olhos, radicalismo não leva a nada. Se um dia eu souber que tem uma banda fazendo cover de uma música minha, eu ficaria mega lisongeado. No início do Pegada, a gente estava fazendo isso; o Stereotaxico tocou Cla Clá da Aldan , o As Horas tocou Ferris Whell da Hell's Kitchen, a Hell's tocou Velho Buk do De Kits . Enfim, tem gente que toca cover porque tem o mercado aberto (todos precisamos pagar as contas) e tem gente que o faz porque gosta(esses sim são o maior problema pra mim, pois a grande maioria é formada por pessoas que não querem chegar a lugar nenhum, tocam somente pelo prazer de tocar).

Então, nossa briga é tanto com o mercado quanto com a cultura. Só que os dois estão ligados diretamente. Só mudaremos o mercado o dia que o público tiver a cultura de ouvir música autoral. A grande maioria das pessoas só vai ouvir música autoral no dia que o mercado oferecer isso pra elas.
Então temos a seguinte situação: O jazz tem seu reduto, o cover também. Temos também nossos redutos: Matriz e quartas feiras de Obra, Butecando, Conservatório entre outros. O fato é que nossos redutos não comportam mais a quantidade de bandas. Temos hoje mais bandas que público. Voltando a velha frase: se todo mundo fosse no show de todo mundo, todo mundo teria público. Somos todos interdependentes nesse mercado.

A algum tempo já vimos discutindo isso na lista UAI Rock, mas o fato é que ficar somente filosofando se é certo ou errado tocar música cover, não chegaremos a lugar algum, e como disse, todos roendo o osso de quarta feira!

Temos de começar a trabalhar propostas pra que o mercado seja interessante para o autoral. Reclamar não muda nada, só aumenta a insatisfação.

Já começamos aqui a produzir conteúdo através de nossas discussões; agora, como vamos produzir público pra que esse mercado fique mais atraente pra casas e pra bandas?
Nosso problema não é ter bandas covers tirando nosso espaço. Na verdade, o espaço sempre foi deles, foi construído assim, e somos nós que queremos tirá-los de lá! Acho que é meio xiita ou xenofóbico acreditar que esse é o motivo da música autoral não vingar. Nós não vingamos porque talvez, nossas estratégias talvez estejam erradas.
Claro que pra definirmos estratégias temos primeiro que definir o conceito, e pelo visto ainda estamos longe de alcançá-lo...

Depois do conceito, precisamos ainda de pesquisas, números e tudo mais. Temos de traçar o perfil do público, saber os valores arrecadados, dentre outros. Já disse isso antes, mas conhecer o problema é metade da solução (talvez mais da metade), aí pergunto:

Qual é o problema?

Ao analisar certos discursos, os problemas que encontro são:

-Os covers estão tirando nosso espaço.
-Não temos espaços pra tocar.

E algumas outras ligadas a espaço. Mas o fato é que se tivéssemos mais espaços, a situação talvez não estivesse tão melhor.

Pra mim o problema é: Não temos público.
E pra vocês?



segunda-feira, 19 de abril de 2010

Festival Lumière no Cidadão do Mundo

Neste sábado 24/04 o coletivo Bequadro Mostarda invade o ABC, mais precisamente São Caetano do Sul, levando seu intinerante Festival Lumière para o Cidadão do Mundo.


É aquela história, 5 bandas:
Glassbox (Sampa)
Jane Dope (Mogi)
Up Brothers (Sampa)
Seamus (Taubaté/Pinda)
+ Exposição de fotos:

A bagunça começa às 20h e custa só R$ 8,00... vai perder?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

RESENHA: Sábado interminável em MOGI por ZELENSKI e SELO SEM SÊ-LO

Nós íamos reproduzir aqui a resenha que nosso querido Z fez do último sábado, mas como o trampo que ele fez ficou muito bom, com várias fotos e vídeos, achamos melhor você ir diretamente lá no blog dele - o ótimo CAFÉ & VITROLAS - para conferir o que rolou, sob sua ótica, no Campus 6 e na sequência o 1º Festival Lumière na Divina Comédia. There goes our hero!

http://zelenskiexperience.blogspot.com/2010/04/embalos-de-sabado-noite.html

E na sequência, descobrimos também que nossos comparsas do SELO SEM SÊ-LO (os irmãos guerrilheiros Elmo & Eder Odorizzi) também disponibilizaram algumas palavras sobre este sábado interminável em Mogee Rock City, onde rolou evento feito por eles com as incríveis Topsy Turvy (Mogi) e Tijolo (Sorocaba) e na sequência o 1° Lumière em Mogi. Então olha!

http://blogsemse-lo.blogspot.com/2010/04/roqueando-fuleragem.html

Estás pronta para o delírio, baby?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

RESENHA: LUMIÈRE FESTIVAL em MOGI por LA CARNE

Fotos: Kbça - http://www.flickr.com/iwannabebobgruen

LUMIÈRE FESTIVAL


Quando chegamos em Mogi, logo em frente ao Divina Comédia, já estavam Régis, os caras do Seamus, e mais uma pá de amigos que foram lá conferir a festa.
E os caras do Bequadro Mostarda fizeram uma divulgação firmeza do evento, teve matéria em jornal, site, lambe-lambe e o escambau.


E aí, pra alegria geral, só ia chegando gente. De todas as direções. Das vezes que tocamos ali no Divina, essa certamente foi a que teve casa mais cheia, galera insana (show com 5 bandas!) e ainda teve um público dos mais acolhedores.
Encontramos tantos amigos e tantas bandas ali que com certeza vai faltar alguém, nos perdoe. Tava o Elmo do Campus VI e seu irmão fã do parmêra (paciência, mas ele é gente boa...rs), o Gabriel (Hierofante Púrpura) que voltou recentemente de uma trip nervosa pela Irlanda, uns trutas de Sorocaba (isso mesmo, os caras foram lá pra Mogi, vai vendo), ah, e fora o zilhão de banda.

Lá dentro do bar, pra vc ter uma idéia, tava embassado pra andar, pra pedir uma cerveja, pra arrumar um canto e ouvir as bandas, desse jeito. Alem dos shows tava rolando discotecagem do Meteoro, barraquinha de venda de cds e uma senhora exposição de fotos.

Quem abriu os trabalhos foi o Jane Dope. O som deles é uma montanha-russa de referências psicodélicas, explosões punx, guitarras duelantes e letras espertas. De repente, um contrabaixo pop-cabulozo deixa um clima soturno no ar, como em “Sadness” e “H.A.T.”. Um teclado insano, pilotado pela incrível Duda. Violões evocando o caboclo-sete-flechas Johnny Cash. Pô, nessas a gente tava ouvindo, bebendo e teorizando: Mogi das Cruzes tem uma cena alternativa muito fudida, bandas com propostas sonoras inovadoras, diferentes do clichê “indie”. Uma safra de vinhos nobres, no caso: Jane Dope, Vício Primavera, Korovas, Accidentes, Hierofante Púrpura, Cafetones, Maquiladora, Conte-me uma Mentira, Cor Séria, Topsyturvy, etc, etc, etc.... Foda.

A Maquiladora é uma trêta à parte. O carisma ali é total. Nesse show até a contida (??) Thais teve a mãnha de descer e ir solar no meio da galera e voltar ovacionada pro palco. Vai vendo, tá folgada essa mina... As músicas novas já estão nas goelas da galera e fica muito bonito de se ver o show. A Thania tem sim a moral de carregar a platéia, e ainda junta o entrosamento fu-di-do da cozinha Andréa+Henrique e tudo vira um jogo sujo - pra quem tocar depois deles, no caso.

Depois veio o Jair e seu novo trabalho. Todo mundo sabe, nós do La Carne somos “viúvas” do Ludovic – a ex-banda de Jair Naves. Nunca escondemos isso. Lado a lado com os Ludovics, viajamos de van, bebemos e demos boas risadas, fizemos vários shows – Belo Horizonte, Franca, Curitiba, bares de SP, no Baal...todos eles foram muito marcantes pra nós. O Ludovic fez história. A mistura das desesperadas/delicadas letras do Jair, com os arranjos de uma banda que é(ra) pura pedrada - Hugo, Du, Zic, Febry, puutz... - e as viscerais performances ao vivo... Cara, sem rodeios: cada show nos marcou, e nos ensinou, coisas importantes a respeito daquilo que se convencionou chamar de rocknroll.

Por isso, estávamos intrigados – e ansiosos – com o show do nosso amigo e ídolo Jair Naves. Curiosos sobre o que iríamos ver e ouvir, já que “Araguari”, o novo trabalho dele, é bem diferente do resto da sua obra. (Permita-nos uma desavergonhada franqueza: chegamos a cogitar entre nós: “mas, e se a gente não gostar do show?”. Tipo: “Teremos coragem de escrever isso no Diário de Bordo? Na qualidade de “viúvas-carpideiras-do-Ludovic?”, o que dizer sobre “Araguari”?)

Chegou a hora. E o que se viu e ouviu em Mogi das Cruzes, no Divina Comédia, às 3 e pouco da manhã?

Primeiro: Jair tá muito bem acompanhado. Mark Paschoal, um baterista extraordinário. Ali Jr no baixo, mais teclados, guitarra, enfim, um timaço. Ao vivo, as canções ganham cores muito mais fortes que no CD, a temperatura delas se eleva às alturas, as letras ganham imagens claras – e de repente, a gente se vê sobrevoando essa tal cidade de Araguari, reconhecemos sua paisagem, suas ruas e seus personagens, guiados pela voz poderosa/cavernosa do “bardo”, que faz - agora sim - seu pessoal ajuste de contas com o passado.

Jair canta com a mesma paixão e entrega de sempre. A voz fica bem na frente, e podemos entender cada frase da letra. Os mesmos olhos tristes, o mesmo sorriso largo/envergonhado. Jair deixa nós e toda a platéia hipnotizados, totalmente de ouvidos ligados – ameaça explodir, e então, volta à calmaria do seu violão. Foi muito aplaudido, e retribuiu com agradecimentos sinceros. E La Nave Vá, Jair...


Depois, de longe, já que a gente tava afinando os instrumentos, vimos a muvuca se armar durante o show do Seamus. E mesmo tendo tocado com eles há duas semanas - sem querer soar repetitivo - as mesmas palavras do show anterior cabem aqui, gente pedindo sons, berrando os refrões arrasadores, dando socos no ar e inevitavelmente invadindo palco, “A Year without breathing” mais uma vez arrepiou, e daí pra ganhar a galera foi tranqüilo. Boe, Meteoro, Pedro e Zé tão tocando afiadíssimos. Mais um grande show! Seamus não é do Brasil. É do mundo.


Mas o que tava muito claro ali era o quanto que a galera tava a fim de ouvir as bandas e ver os shows. Todas, todas as bandas tiveram momentos no qual o público vinha junto.
E com a gente não foi diferente. Desde a hora que chegamos, descarregamos o carro, bebemos, tomamos ar, demos entrevista, batemos foto, ganhamos cds, conhecemos um monte de gente, enfim, fomos tratados com um carinho que é impossível descrever. E na hora do show, foi o seguinte: ele não sairá tão cedo das nossas cabeças.
Passavam das 5 da manhã e uma pequena multidão ali, urrando e sangrando com a gente, roubando microfone, se jogando pro alto, nos olhando no olho e cantando os nossos absurdos. Conclusão: não se tem como sair ileso de um show em Mogi. Já tocamos várias vezes lá, mas dessa vez foi inesquecível. Obrigado. Obrigado, essa palavra é tão pouco...



Depois ficamos embassando e vendo raiar o dia na frente do bar.

Ah, e a gente quer agradecer muito pelo convite do Bequadro Mostarda. E ó, essa empreitada que vocês estão entrando é aquele lance tipo uma misto de Samurai e malandro, saca? Pensar agindo e agir pensando. E aí, lá na frente, quando vocês estiverem de saco cheio de tudo, quando forem mandar tudo à inevitável merda, vocês verão que isso, de fazer o que vocês quiseram, levou vocês muito longe. Filosofia de vida fuckers, “Distraídos venceremos”.

FIM

Agradecimento + Câmera Sony perdida

Em nome do Coletivo Bequadro Mostarda, agradeço a todos que estiveram no Festival Lumière sábado último na Divina Comédia, ficamos muito felizes com a quantidade de gente bacana que estava na casa...

Aviso apenas que durante o show do La Carne, foi perdida uma Câmera digital Sony, meio velha, bem riscada, com um durex tampando o compartimento das pilhas e tal, mas que possuía imagens importantes para nós do coletivo, a ponto de solicitarmos gentilmente à pessoa que encontrou para enviar as imagens para nosso email bequadromostarda@gmail.com sem precisar se identificar caso querer ficar com a câmera velha. No caso de devolução, basta apenas entrar em contato conosco.

Agradeço a consideração e força de todos pelo trabalho que estamos fazendo em prol da música independente e logo mais voltaremos para disponibilizar a resenha do sábado.

Regis Vernissage

sábado, 10 de abril de 2010

O FESTIVAL LUMIÈRE É DESTAQUE NO MOGI NEWS E NO DIÁRIO DE MOGI!

http://www.moginews.com.br/materias/?ided=799&idedito=6&idmat=59671

Variedades

Matéria publicada em 10/04/10 - Mogi News

Música Encontro reúne artistas e bandas independentesFestival Lumière, que terá sua primeira edição em Mogi esta noite, é uma grande vitrine para músicos, fotógrafos e produtores culturais de outros segmentos

BÁRBARA BARBOSA
Da reportagem local
Divulgação

Intercâmbio: Evento contará com várias atrações musicais, a partir das 21 horasUma vitrine de bandas autorais, fotógrafos e artistas plásticos. Assim pode ser definido o Festival Lumière, que terá sua primeira edição em Mogi esta noite, no Divina Comédia Clube, a partir das 21 horas. Trata-se de um festival itinerante, organizado pelo coletivo Bequadro Mostarda e que já percorreu Pindamonhangaba, São Paulo, São José dos Campos e São Caetano do Sul. No palco da casa noturna, estarão as bandas Jane Dope, Maquiladora, Seamus, La Carne e Jair Naves (antiga Ludovic).

Lançado há três anos nas cidades do Vale do Paraíba, o Lumière terá sua primeira edição em terras mogianas e, segundo um dos organizadores, Regis Vernissage, a ideia é que ocorra na cidade a cada três meses. Outros municípios, como Campinas, Sorocaba e Belo Horizonte,também negociam receber o festival."Como várias bandas e artistas mogianos já tocaram ou expuseramem Lumières anteriores, nada mais natural que Mogi ter entrado neste circuito", explica ele.

Vernissage, um dos produtoresdo Bequadro Mostarda, ressalta que o objetivo do coletivo, formado pelos grupos Jane Dope (Mogi/São Paulo), Seamus (Taubaté/Pindamonhangaba) e Maquiladora (Mogi/Suzano), é promover o intercâmbio de artistas e bandas autorais independentes.Apesar de o coletivo abrir espaçoa todas as vertentes musicais,a maioria das bandas participantes das ações é de rock. "São as que mais nos procuram para este intercâmbio", justifica.
O evento desta noite também contará com shows das convidadas La Carne, de Osasco, e Jair Naves, de São Paulo. Haverá exposição de fotografias e artes dos artistas Stéfano Martins, Oswaldo Kbça Cornetti e Thamires Rainbow, de Pindamonhangaba, e Carol Ribeiro, de São Paulo. O festival terá, ainda, discotecagem indie rock com o DJ Meteoro, de Taubaté.

A Divina Comédia Clube fica na rua Otto Unger, 158, no centro de Mogi. O valor da entrada para o Festival Lumière é de R$ 10.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

LA CARNE – DISCOGRAFIA COMENTADA

Texto por Regis Vernissage

Tendo como deixa a passagem desses meliantes de Osasco por Mogi das Cruzes quando do Festival Lumière do dia 10/04/10, como também o recente relançamento em cd da sua discografia, embarco aqui numa jornada sem volta à essência do underground urbano, um mergulho nas profundezas da alma apodrecida e suspensa pelas verdades do mundo, em suma, a maior das pretensões, ao falar sobre a discografia de uma das maiores bandas do underground paulistano, o La Carne.


(1997) La Carne

Estamos entre 1997 e 1998, uma apatia generalizada toma conta do cenário musical brasileiro onde musas de tchans e gostosas do axé sem o mínimo de inteligência necessária para uma subsistência cultural sadia vendem para uma multidão hipnotizada e imbecializada suas bundas gordas de estrias e celulites semi-photoshopadas, ao mesmo tempo em que gladeam nas paradas de sucesso com duplas sertanejas de chapeis capciosos, falsetes suspeitos e vibratos de plástico que mais parecem terem sido alvo do aprendizado de um Pato Donald (muito mal) influenciado por um já tardio Axl Rose enrugado e de bolas murchas. E olha que nesta época já existia internet (apesar da conexão ainda ser dial-up!), além do Napster já dar seus primeiros passos.

É neste cenário horrorshow que a banda mais guerreira, influente e sangue bom pra caralho que temos conhecimento do underground paulistano, o La Carne – banda de Osasco formada por Marcos Linari (voz), Jorge Jordão (guitarra), Carlos Remontti (baixo) e Chicão Reinikova (bateria – que substituiu Fábio Escanhuela, batera original que gravou os 3 primeiros discos), lança seu primeiro petardo auto-batizado com 12 jóias raras do cancioneiro rock independente brasileiro.

O disco abre com dois clássicos lacarneanos: Viaduto do Sol e Demônio Triste, que são odes ao comportamento cosmopolitano encontrado em uma megalópole alucinática como Sampa, já mostrando qual será o nível da conversa daqui em diante. Seguindo na mesma vibe, temos Sobre a Revolução, um som cheio de climas e super bem temperado com o suingue da guitarra de Jorge Jordão e De Uma Lembrança Estranha que valoriza o comportamento nada habitual daquilo que podemos chamar de uma “pessoa comum”.

Marimbondo fez parte em 2008 da trilha sonora do filme de Reinaldo Pinheiro "Nossa Vida Não Cabe Num Opala" (Baseada na peça teatral de Mário Bortolotto “Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet”) e prova que o som do La Carne é sim atemporal, não apenas pela estrutura musical como também pelo conteúdo urbano e facilmente identificável em suas letras (“O tempo vai comendo a paciência e nós aqui, atravessando sinal, enchendo a boca de migalhas sempre que vamos tocar”). Na seqüência Quem Aqui (Desgraça), repleta de guitarras ousadas e baixão coeso e Como É Então revisitam o comportamento diverso de uma megalópole como roubos, extorsão, drogas, algo aliás corriqueiro na poesia urbana proposta pela banda. O mesmo ocorre em Jukebox que mostra com ironia como seria uma balada do La Carne, com a inclusão de elementos díspares (ou não) como o taco de bilhar, o pai, a ficha da jukebox e os “homi”.

Um Brinde a Iggy Pop! faz referência muito bem humorada à “iguana” e é o primeiro momento onde encontramos microfonias e dissonâncias desconexas (muito bem feitas, aliás) na obra desses malucos de Osasco. Em Riso de Ninguém a banda brinca com o inglês na ponte do refrão neste que é um dos sons mais suingados deste disco, que fecha na mesma vibe com as aceleradas Sim, é Um Mundo Sujo... e Por Onde Anda Você que selam orgulhosamente esta obra que já deixa o link no ar do que estes meliantes vieram pra mostrar. Rock cru, honesto, verdadeiro e urbano dentro de uma coerência de quem consegue enxergar a real essência deste nosso Brasil varonil.


(2002) Bom Dia, Barbárie!

Cinco anos após a gravação do seu primeiro disco e com uma evolução notável no que rolava no mundo até então (o novo rock do início do século não iria definitivamente salvar o mundo, mas já havia tirado do estado de inanição aqueles pobres coitados sedentos por música nova de qualidade que putrefaziam-se ao gosto do pop descartável emitiviniano), com a internet já rolando em banda larga e o Napster sendo processado pelos gigantes da música (fail!), eis que nossos heróis nos presenteiam com seu segundo petardo nomeado Bom Dia, Barbárie!, que de cara já mostra uma nítida evolução nas pegadas da batera, com quebradas improváveis e a imposição de uma nova força, consideravelmente maior, em suas batidas. No geral o disco vem bem mais acelerado que o anterior e continua cheio de referências urbanísticas lacarneanas.

O primeiro destaque do cd é, de cara, a arte do encarte em papel vegetal transada pela Vânia Ferreira (responsável em grande parte pelas artes da discografia lacarneana) que teve extremo bom gosto em juntar pedaços separados de uma idéia e transformá-la no contexto final da proposta como um mosaico, um puzzle, pensando na transparência do vegetal e suas funcionalidades. Diria, genial!

Validando a linha de raciocínio do estado de inanição descrito ali em cima, Tava Aqui Pensando, mais um clássico lacarneano, abre o cd vomitando esta sensação na cabeça do ouvinte logo nas primeiras frases (“E ainda tô na rua prestando atenção, a multidão tão burra e a chuva devagar... e eu tava aqui pensando quanto tempo é que falta, pra que o dia amanheça e livre a nossa cara”) e arrebata no cinismo aos menos avisados (“Agradeço a preocupação, boa sorte pra você”). Bom Dia Barbárie!, a faixa que dá nome ao disco e outra candidata a clássica, pinta naturalmente com um ótimo trabalho de cozinha em junção com uma guitarra compassada e pungente fazendo a cama para Linari declamar que a vida talvez deva valer quase um Chevrolet, mas no final das contas o teu disfarce cai (e trai).

Apesar de ser uma evolução natural, incrível notar a aceleração na guitarra e a técnica peculiar utilizada por Jorge Jordão (pra quem não se tocou ainda, o rapaz não usa nenhum tipo de pedal de efeitos, apenas sua telecaster ligada ao ampli, e só jovem!) e Hoje Vai Ser é um exemplo prático onde se saca que não estamos falando de fritação e sim aceleração. Faz toda a diferença. This Is Not Real, Son (outro clássico lacarneano ideal para ser ouvida em seu ipod enquanto se desce a pé pela Rua Tomás Carvalhal) usa e abusa desta característica que já é considerada marca registrada destes meliantes.

A Sujeira e a Cegueira por sua vez, com um complexo suingado que a caracteriza do restante do álbum, purifica nossos ouvidos em breves 3 minutos da tal velocidade acelerada que havíamos comentado ali atrás, deixando uma brecha de respiro para ...E Isso É Só O Começo..., enquanto o ouvinte é levado para dentro da máquina de robotizar, localizada na fábrica de paranóia. Mas o endereço desta vez é secreto. E já que chegamos ao fim, é hora de darmos Brasa Nos Pé e resolver o que ainda parecia não ter sido resolvido até então. Mentira! Tá tudo resolvido, meu brother! La Carne é phoda que eu sei!


(2003) Desconhece O Rumo, Mas Se Vai

Prestes a completar 10 anos de banda (a formação inicial do La Carne deu-se no longínquo e fatídico 1994) e pouco menos de 2 anos após o lançamento do ótimo Bom Dia Barbárie! eis que nossos heróis lançam seu terceiro petardo que parece ter-se aproximado da perfeição. Numa época em que o hype exacerbado de um tipo de paga pau de gringo (principalmente na imprensa indie brazuca) onde a clipagem da NME (rá... rá... rá...) ou o último peido soltado no ermo sudoeste do leste europeu acabou acarretando algumas dezenas de “one-hit wonders”, os lacas não se rebaixaram a estes “tipos” que assolavam a mídia e resolveram por si próprios a mostrarem presses “Zérruelas” o que é o verdadeiro rock’n’roll. Sem hypes, sem pretensões, sem querer se levar a sério. Fazendo pra fazer bem feito, com tesão.

Desconhece o Rumo Mas Se Vai é o som que abre e dá título ao cd. Outro grande candidato a clássico lacarneano, além de nos proporcionar prazerosos longos 7 minutos da mais pura poesia e energia lacarneana, tem como destaque a incrível linha melódica e precisão das 4 cordas empunhadas por Carlos Remontti que se responsabiliza em segurar por todo o tempo a obra sem deixar em momento algum a peteca cair. Estamos ouvindo o cd, mas é incrível notar a calma e naturalidade desta banda tocar ao vivo linhas complexas. Creio ”maturidade” ser a resposta. É Baderna chega chegando, chutando a porta e o que mais tiver pela frente. Faixa integrante do filme Pixo de 2009 dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira, ironiza a ação de força de corporações submissas a um governo tardio e retrógado contra manifestações populares, fato bem comum em países em desenvolvimento tal qual o nosso. Isso tudo sem citar a força da própria música que inova trazendo trechos vocais gravados ao contrário, criando uma imagem como se fosse o próprio cramulhão que estivesse dando o seu aval pra bagunça generalizar-se. Sábias palavras do sábio Linari: “Prendam todos e enforquem os poetas”.

Figurinha Difícil traz um personagem que todos já conhecemos um dia: aquele ser mala, pentelho, fofoqueiro, que precisa desesperadamente aparecer e se afirmar na ânsia de ser alguém. “Sai Zica!”, diria o poeta. Já Que Eu Tô Aqui descreve uma situação de crise ou mesmo final de relacionamento e se destaca pela técnica de Jorge Jordão, que fica o som todo brincando com o interruptor de timbres da sua teleca, o que dá uma sensação cabulosa de um delayzão diferente (lembrem-se: o rapaz nunca usa pedais de efeito!).

O cd fecha com 3 sons bem diferentões: Faroestes esbanja um grande texto, mas não faz questão nenhuma de refrões, a ótima Café Amargo que é o que poderíamos chamar de uma “balada” lacarneana, muito mais pela pegada “de boa” imposta pelo som e não por ser uma balada em si, uma vez que seu refrão permite o punch que a descaracterize como tal, e fechando, Canção do Mar Revolto, proposta a sugestionar uma volta para casa após uma conturbada viagem, dias fora, repensamento de alguns conceitos (seja o que isso quiser dizer) e a reação esperada após toda a tempestade, a fúria do mar, o vendaval – metaforicamente falando, lógico. Arrisco dizer que este é o cd mais progressivo dos Lacas, mas não aquele progressivo com ondas de Rush, Yes, King Crimson, Jethro Tull, nada a ver. Progressivo aqui quando nos referimos à própria sonoridade criada pelos caras. Tipo, quase uma experimentação ao explorar os próprios limites, saca? Ou seja, recomendadíssimo.

(2008) Granada

Estamos falando de praticamente 15 anos de muita história pra contar, segundo os próprios: “muitas risadas, algumas lágrimas, amigos feitos, roubadas, escândalos, noitadas, enferrujados spots de luzes coloridas, orgulho em fabricar artesanalmente nossa própria obra sem pressões ou concessões, orgulho em tomar as rédeas da nossa própria história, orgulho em ter fãs tão fabulosos, anônimos como nós”. Sim gurizada, os fios brancos trazem sabedoria, serenidade e plenitude. Aí você pega tudo que absorveu em 15 anos de estrada e comete uma obra-prima, um “masterpiece”, um “chef-d’ouevre” como dizem lá, e lhe designa muito propiciamente a alcunha de Granada, primeiro disco da banda a incorporar outros instrumentos fora a santíssima trindade baixo-guitarra-bateria (há teclados, violino, percussão e sanfona), são 12 faixas que soam como carne crua e sangrenta jogada num ventilador industrial em velocidade cinco, ou seja, clássico total!

Não há muito o que se dizer sobre uma obra-prima, palavras em demasia aqui denotarão uma pretensão que já foi longe demais só em arriscar-se a resenhar a discografia por si só. O que dizer sobre uma obra repleta de clássicos absolutos que começa de cara com a singela frase Contracorrente desde sempre baby, contra os abutres que devoram devagar”, ou da linha de baixo “cavulosa” de Carlos Remontti na faixa-título Granada enquanto Linari, ao ver um anjo e um demônio, questiona: “qual de vocês veio me levar?”, ou da imagem tarantinesca provocada por Malasuerte em sua lenda ibérica rechaçada de loucas vozes dissertativas ao fundo, ou da guita sinistra que Jorge Jordão comete na fantástica Blues dos Seus Absurdos em conjunto com a batera socada de Chicão que lembra mais um trator desgovernado certo e convicto de seu rumo, ou da brisa que Decida provoca enquanto o mundo lá fora, sujo e cruel, me leva a te buscar. “Ponha seu melhor vestido baby, bora fazer um Sambakaos completamente insano e atonal!”, diria o poeta.

O que falar sobre a irônica Tratadus Pilantrae (T.G.P.) que se tornou a melhor imagem da política contemporânea brasileira e seus meandros “nhém-nhém nhém-nhém nhém-nhém nhém”, ou sobre a espetacular Vergonha na Cara que se tornou hit instantâneo (La Carne com hit?) desde quando os caras a tocaram inteira pela primeira vez ali no ensaio deles em Osasco, ou sobre a onda que tiram com a atravessada-mãe-de-todas-as-outras em Ancestrais, ou sobre o recado que receberam de Jean Charles (R.I.P.) e Iggy Pop ambos afirmando categoricamente que Londres Está Uma Merda (é muito clássico prum disco só!) e efetivamente pessoas informadas sabem muito bem hoje em dia de tal verdade, ou sobre a treta (também brisada) descrita em Olhos Escuros sobre aquele casal mundano que, no fundo no fundo, a gente tá ligado que eles se amam pacas, apesar do carinha estar nitidamente de 4 pela mina nervosona, ou sobre a camaria final trazida pela reservada sanfona de El Sid – um breve farewell pra tua cabeça (tentar) assimilar a quantidade absurda de verdade e soco no estômago que acabou de ser despejado em você durante os últimos 48 minutos e 15 segundos de sua reles e vil existência.

Digo e repito: de obra-prima não devemos falar nada. Apenas calar, ouvir e aprender. Long live fuckers! Long live Laca!


http://www.lacarne.com.br/
http://www.myspace.com/llacarne

Festival Lumière no Jornal Sete


Em destaque nota sobre o Festival Lumière veiculada no Jornal Sete desta semana.
fonte: http://www.jornalsete.com.br/ - pg 11

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Uma breve história no Vale

Texto por Regis Vernissage

Neste final de semana, as 3 bandas do coletivo Bequadro Mostarda foram convidadas a tocar em diferentes eventos no Vale do Paraíba, o que mostra de cara que nosso corre não está sendo em vão.

02/04 Bola 8 Snooker Bar, Pinda – Easter Festival [Ensaios Destrutivos, Bristol, JANE DOPE, Slithroat]

Fotos por Bruna e Fernando Lalli

Tudo começou na sexta-feira dia 02/04 quando após uma tarde agradável de ensaio, a JANE DOPE empacota suas tralhas e migra rumo a sempre aprazível Pindamonhangaba pra desta vez tocar num snooker bar chamado Bola 8. Pico legal, cerveja barata, cicceroneados pelo sempre amável Zé Ronconi, amigos queridos locais chegando de rodo (Bôe, Irmãos Fusco, Thami, Thaís, Júlio, Stéfano, Ike+Bruna, Felipe Hit Camera...) e mais queridos trazidos de Mogi por Marceleza (Thaisera, Vivi e Erikito Somata). A vibe tava bacaníssima e o povo começando a ficar bêbado e a fazer bruxarias.

Eu, Nanda Shoozona e nossa incrível Brian Wilson Itálica dos Teclados Duda já havíamos virado uma garrafa de Assemblage, enquanto Déa Dope Drummer se esbaldava numa caipirinha que tava uma delícia de doce e enquanto Marceleza secava uma garrafa de vódega + redbull com os doentes que vieram no seu carro... nos juntamos com todos os queridos locais que já bebiam há horas no posto BR perto do pico e aí já viu né... dá-lhe blahs... nisso as bandas começaram a tocar e a gente adentra após quase todos os assuntos do mundo serem colocados em dia, após quase todos os ciggys do mundo serem fumado pelos fumantes, após quase todo o estoque de saliva do mundo ter secado de tanta falação.

A primeira banda foi a local Ensaios Destrutivos que tocaria também no dia seguinte (a gente já chega lá) que foi bem legal, fizeram um rock consistente e honesto com letras em bom português e conta com integrantes muito simpáticos. Na sequência, outra banda local chamada Bristol chamou a atenção pela sonoridade com nuances que remetiam a Sunshine Underground, Smiths e Travis, também muito boa! Fecharam com uma grande versão para I Will Follow do U2.


Em seguida, entramos semi-bêbados vestidos de JANE DOPE e de cara achamos estranho o fato do Hugo (que organizava o festival) pedir para nos enfileirarmos no palco pra fazer uma foto geral antes de começar, mas acatamos o pedido! rs... Fizemos o setlist Dopiano básico (com a ajuda providencial do nosso roadie de plantão, Sr Ronconi) e com a inserção no final de um som novo chamado Jane Dope: A Diamond On The Road que trata da real história da puta. Ficamos felizes por sermos muito bem recepcionados e por ter uma resposta imediata de quem lá estava, não só dos amigos, mas também dos presentes em geral. Pra fechar a noite, tocou a também local Slithroat que fez vários covers de nomes de peso, como Foo Fighters, Metallica, etc...

Hora de zarpar, Marceleza e os bêbados voltam pra Mogi e eu + as outras Janes seguimos para a residência dos Ronconi para uma agradável noite de sono, pois a maratona continuaria no sábado.

02/04 Espaço Cultural Epígrafo, Moreira César – La Vacaloca [Maquiladora, Seamus, Hierofante Púrpura, Ensaios Destrutivos]

Fotos por Regis Vernissage

Após uma comprinha básica no Supermercado Excelsior em Pinda, rumamos para a chácara dos Ronconi onde rolaria um churras e onde passaríamos a tarde. Nós Janes remanescentes guiados pelo Zé e acompanhados por Stéfano e Ike+Bruna chegamos à chácara junto da chuva, foi o tempo de comer algo mais e descansar de leve. De repente chega Pedrinho e Thami (que iria expor suas fotos a noite no Epígrafo), Meteoro e Mariana dirigidos pelo Bôe, as Maquiladoras Thania e Thais guiadas pelo também Maquiladora Henrique que parece ter dado uma carona ao mineiro-quase-suzanense Cris Lima (da Curved), coladaços pelos queridos Hierofantes Danilo, Gabriel e Hugo. A recepção estava completa e, se não saiu sol, ao menos a chuva deu uma trégua, o que possibilitou até que alguns maloqueiros se jogassem na piscina da chácara para espantar os maus agouros! Era hora então de irmos, em carreata, rumo ao distrito de Moreira César, distante 13km do centro de Pinda sob uma chuva torrencial que resolveu então cair de verdade, o que não impediu uma bela visão que tivemos do Pico do Itapeva ao norte.

Sorte novamente chegarmos ao Espaço Epígrafo e a chuva dar uma amenizada (é a 2ª vez que estive lá e choveu como na 1ª... rs) aproveitamos então para continuar tomando umas cervejinhas e colocando mais assunto em dia. Palco e exposições de fotos e desenhos devidamente apreciados e montados, era hora do som.

A primeira foi a MAQUILADORA que chamou a atenção de quem ainda não as conhecia, fazendo a gurizada local ficar literalmente no meio da banda (muito legal no Epígrafo que não existe palco, a interação é 100%). Tocaram seu último cd My Silent Van Gogh praticamente inteiro.

Na cola, os caras do SEAMUS representaram tocando um set relâmpago (bem, eu achei curto) que arrancou suor até das formiguinhas que passavam entre as pedrinhas na área de descanso do bar, tamanha a intensidade da energia passada por esses barbudos malditos! O final apoteótico de microfonias distorcidas e barulheira deliciosa foi a ponte perfeita para a psicodelia madura de punch cristalino trazida pelos queridos visionários da Hierofante Púrpura que provocou um êxtase na gurizada presente em frases tipo: “de onde eles vieram?” ou “cara, que incrível isso!”. Tocaram sons de seus Adubado e Crise de Creize e fecharam com a sensacional Discutindo, com participação massiva da galera fazendo fundinho de palmas e tal. Além de terem tocado outra música inédita, foi a primeira vez que executaram essa ao vivo, segundo afirmação do próprio Danilo Sevali.
E fechando a noite com muito estilo, os pindenses bacanas do Ensaios Destrutivos nos proporcionaram um setlist desta vez bem maior que o visto na noite anterior, repleto de composições próprias e com direito até a um cover de Comfortably Numb do Pink Floyd com os vocais liderados aqui por um belo Fernando Lalli ensopado de suor, chuva e amor. Coisa fina.

Mais uma vez com a sensação de missão cumprida, era hora de fazer um pitstop em Pinda pro lanchinho básico e pegar a estrada de volta pra casa, levando um amor cada vez maior deste pedacinho do Vale do Paraíba.