segunda-feira, 7 de junho de 2010

SINFONIA DE CÃES

Texto:

Fotos:
SINFONIA DE CÃES
05.06.2010



E é claro que nos perdemos pra chegar na Garagem dos Cães. Aí que fomos pela Marginal Tietê. Sofrível. Se ainda não passou por lá, você não sabe a zona que estão umas faixas. Aí você tá indo, de repente aquela faixa que você achava que ia pra um lado começa a virar uma entrada pra uma ponte e aí quando você vê já era. Perfeito. Porra, Kassab!

Enfim, deu errado mas depois até que deu certo, quando do nada surge uma placa “Jardim Japão”. Aí fizemos uma manobra canta pneu mirabolante e acertamos o rumo. Pra evitar erros maiores paramos em um posto pra tirar as dúvidas: “moça, é por aqui que chega no Jardim Japão?”. “Ixi... Marinélsa, é você que mora por ali?” “Eu!? Sei não...”. Maravilha...

Quando chegamos na garagem dos cães já tinha uma galera ali, as Maquiladoras passando o som, Roger e Carol recebendo o povo, Loucas estampando umas camisetas, lanchinho, cervejinha. Tudo a lá Milton Leite: ‘que belêêêza..”

E não é que a Garagem é mó estilósa? O pico é uma área totalmente residencial, é uma casa daquelas com jardim gigante, garagem gigante, área pra trocar idéia, cadeirinhas, etc. Parece mais uma Chácara dos Cães, vai vendo.

Dando um rolê pela fauna você podia trombar os Seamus articulando planos de dominação – o Bôe com camisa do Osasco era puro detalhe, as Maquiladoras contando da virada cultural em Mogi e de quando elas tocaram no mesmo palco do Mudhoney e que depois ainda teve matéria no Metrópolis da TV Cultura – vai vendo... Tinha também os Hierofantes que trombaram de frente com a pulíça mogiana no lance do Gerador Rock e o Kbeça documentando tudo e o Danilo dizendo no microfone que os cara não tavam querendo deixar eles tocar e aí a galera incendiou e começou a pesar na pulíça. Sensacional! Roger que vai sair com seu trampo xtreme blues dog pra um rolê nervoso pelo sul e vai até o Uruguai fazer um som. O Bequadro Mostarda que tá num corre de dar inveja e parece que vem coisa fu-di-da por aí. Ou seja, encontrar os amigos é sempre uma festa, dizaê.

Sim, tinha uma pá de banda, ia rolar shows etc e tal. Mas a pegada ali não eram os shows em si, o lance era a gente estar participando de uma história que começou há uns 6, 7 anos. Quando umas almas perdidas resolveram negar a normalidade das coisas e ir e fazer a sua própria história. Mesmo que isso pra muita gente seja apenas uma ilusão. Foda-se, truta. A gente precisa de ilusão, sim!

E quando a gente conheceu esses caras, lá na Galinhada do Bahia, debaixo da mó chuva, com palco pingando, cachoeira no meio da pista, todo mundo no corre, com a maior satisfação do mundo, aquilo ali deu um baque fudido. Eles tinham algo que nos fisgou na hora: Porra, eles se arriscavam! Eles eram gente sem aquela mentalidade de vítima tão característica no rock. E foi assim, que a partir dali, criamos uma brodagem pra lá de sem vergonha que dura até hoje.

Foi um dos momentos mais incríveis na nossa história, porque foi a partir daí que começamos a achar nosso lugar como banda, pois até então a gente sempre foi meio que patinho feio, saca? Nossos rolês e shows iam pela linha convencional, no caso. Tocávamos com bandas cover – mas ó, tudo bem o cara fazer um cover, tirar uma grana e tal. Isso sim é digno! Mas quando você tem seu trampo e tem de tocar uma “que os cara gosta” só pra fazer média, aí é deprê, vai...

Enfim, aí tocávamos em casas que você tinha que mandar cd, cortejar alguém, lugares bacanudos, gente que topava tudo por uma notinha no jornal, que queria “virar”, que trocavam sua integridade por uma palavra que não “pegasse mal” com alguém na mídia, gente que queria fazer a banda virar um negócio, um emprego, saca? Todo mundo tinha “seu público”, amigos influentes, gente que fazia tudo tão bonito que dava até inveja do profissionalismo. E nos rolês sempre nos disseram que nossa lógica de trabalho não ia dar em nada e que a gente tava se iludindo ao ir “contra a corrente”. Pois é, desde sempre, baby.

Mas talvez nosso maior problema é que sempre fomos muito mal organizados mesmo. Sempre preferimos ficar na mesa do boteco ao lado rindo com os amigos a ficar fazendo social, contatos, indo nas festas certas. Só que a gente não é assim por implicância, esse é nosso jeito, é como a gente funciona e sempre soubemos que um dia íamos encontrar nossa turma.

E quando conhecemos esse povo foi como se tivesse sido escancarada uma janela de possibilidades. Por exemplo, foi por intermédio deles que conhecemos uma infinidade de bandas autorais, muita gente que viria a ser nossos amigos até hoje, fizemos shows incríveis, acertamos, erramos, e ainda tivemos o prazer de participar de eventos com uma dose de emoção indescritíveis como a Invasão no Prestes Maia e mais recentemente o Cicas. E todos com uma dose cavalar de entrega, que sempre nos encorajou a ir mais e mais além.

Ah, os shows foram todos muito classe, todo mundo animado, gente cantando as músicas, fotografando, filmando e pedindo música. Apareceram até os Avon, parentes lá do Carlão de Curitiba, Paty Mori também tava lá junto ao pessoal de Mogi e por aí vai.

E é isso.

Olha só, pra nossa salvação, mesmo que o rock independente tenha se tornado um gigantesco circo, ainda temos gente que se recusa a ser conivente. E desde o nosso segundo Sinfonia de Cães, lá na Galinhada do Bahia, descobrimos que todos os cães são de outro planeta. E eles são os nossos heróis.

Um brinde, félas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário