sexta-feira, 25 de junho de 2010

FESTIVAL LUMIÈRE @ BEBOP MUSIC BAR

RESENHA: FESTIVAL LUMIÈRE @ BEBOP MUSIC BAR – TAUBATÉ - 19/07/2010
Bandas: Seamus / The Vain / Maquiladora / INI / Jane Dope

Texto: Regis Vernissage
Fotos: Carol Ribeiro & Stefano Martins

Contrariando o gelo que vinha fazendo nas semanas anteriores, este sábado demonstrou-se mais brando em relação à quantidade de roupas que deveríamos levar para a sempre quente Taubatéxas. Chegar ao centro foi coisa fácil e pouco antes de aportarmos na Bebop, encontramos sentados na mesa de num bar de esquina os ilustres Fernando Lalli e Vinícius Pacheco que saboreavam um prazeroso malte dos deuses enquanto se encarregavam de nos informar que naquele instante os meninos imprestáveis da The Vain passavam o som no pico. Lá chegando, tratamos de logo descarregar os instrumentos e fazer o check-in na casa, que se trata de um sobrado que possui bela decoração rocker, mesas de bilhar (que me lembram da chegada triunfal de Stéfano, oh Sté...) e vários ambientes extremamente aconchegantes. Num deles, no piso superior, foi montada a vernissage dos fotógrafos Stéfano Martins, Carol Ribeiro e KBÇA Corneti que causou frisson durante um bom tempo, uma vez que antes do início das apresentações das bandas o movimento no cômodo designado fora intenso e repleto de roqueiros e roqueiras que apreciavam o belíssimo trabalho que os 3 fotógrafos vêm fazendo. Em dado momento, parecia que o bar inteiro estava lá em cima devido tamanha movimentação, tudo isso animado pela sempre incrível discotecagem do onipresente Gabriel Ronconi que flutua com extrema facilidade entre Slayer e Tom Waits, entre Dinosaur Jr e Motorhead, entre At The Drive-In e Otto...

E então com todas as bandas já presentes foi feito o sorteio da ordem das apresentações. Eram exatamente 23h quando o Seamus tratou logo de abrir a noite com um setlist arrebatador sob o comando de um inspiradíssimo Luis Meteoro & seu delay assassino onde pouco se deu tempo sequer para respirar. Tudo colado assim: Red, Modern Dance, A Year Without Breathing, Blame e Hate Campaign, inclusive essas 3 últimas costuradas da mesma maneira que escutamos no cd SOTCYL. Coisa fina. Coisa para ouvidos atentos. Fiquei sabendo que a banda não ensaia há tempos, mas não importa para nós - simples e mortais tietes - o que acontece lá dentro entre eles, única coisa que deixo aqui bem claro é que música boa e de qualidade “não vira” aqui nestes confins varonis do planeta. Seamus é for export, é pra Glastonbury, é pra Reading, é pra P.A. profi for real.


O mesmo podemos dizer da “relativamente nova” orientação sonora praticada pelos malucos da The Vain que tocaram na sequência seu rock dançante de pegada européia. Apesar da ótima qualidade de som encontrada na casa, fiquei imaginando como seria ouvir num “P.A.zão” de fest gringo as guitarras corrosivas da Guilty Pleasures, os efeitos viajeiras da Modern Kidnapper e a linha de baixo da incrível Gold, músicas que abriram o set da banda e integram seu recém lançado EP Modern Kidnapper. E mais, há tempos não ouvia uma abrasividade sonora tão grandiloquentemente noisy (essa terminologia foi a que mais se aproximou do que esses vândalos fizeram no palco) no encerramento do set deles. Coisa linda de morrer! (Vai aqui a dica para quem é de Mogi: neste sábado 26/06 eles estarão na Divina Comédia  absolutamente imperdível!)



Era então hora da Maquiladora mostrar para Taubaté os ótimos sons do seu My Silent Van Gogh como Loc9Nat, Walk Among, Cheap Perfume e Iceberg, sem se esquecer de clássicos como a alcoólatra Too Much Wine que sempre dá brecha para a roda de pogo estabilizar-se perante a galera que impreterivelmente fica de 4 com a qualidade sonora apresentada pela banda. Mais uma vez foi ouvida durante o show a máxima que já está se tornando corriqueira em apresentações Maquiláticas, a tal “DEPILA ELE!”... Um dia hei de descobrir quem foi o Zé que hypou esta máxima... Hora então de queimar um papinho “Con Ayuda” ali fora pra absorver e “tentar reparar” o dano causado pelas 3 bandas e, ao mesmo tempo, preparar terreno para o que havia de vir.


Talvez toda e qualquer palavra que eu tentar expressar aqui será redundante ou sequer conseguirá passar para você, nobre leitor, o que significa ter a 3 metros de você os sorocabanos da incrível INI alterando momentos extremamente barulhentos com uma calmaria que chega a ser muda, agregando-se doses cavalares de psicodelia (principalmente por parte da guita efervescida de Rick Rave) além de uma forte camada de testosterona fluindo por suas composições, sem ser metal nem punk nem crossover. Aliás, sem definições aqui, ok? A INI não foi feita para ser definida, apenas contemplada. Preferencialmente boquiaberto. Tente sobreviver após testemunhar, como disse - a 3 metros de você, uma sequência de Bandeira de Holerites, Do Abismo e o Abismo, Cru, Tché, Becos Ossos Meus e a sensacional performance de palco desses malucos! Eu piscava vorazmente tentando morder meu maxilar e me beliscava constantemente pra saber se ainda estava vivo até então... Minutos mais tarde, afinando instrumentos no backstage para o set da Jane Dope, estava completamente atordoado com a potência sonora da INI que, em minha opinião, resolveu a noite com sua sensacional Caixa do Macaco.


Foi tudo muito rápido, olhei no celular pra fazer o efeito louco da intro Dopióide e acusava 2h20, ajeitamos então os efeitos necessários praquela sensacional musiquinha sopa, diria trilha sonora de motel barato, seguida de uma breve bolha para abrir nossos serviços para os poucos amigos que ainda restavam na noite (a grande maioria estava lá indiscutivelmente para ver Seamus e The Vain - mas teve uma rapa de sortudo que ficou e pirou com Maquila e INI) incluindo aí as guerreiras Gigi, Camilona, o graaaande Gummer e nossa incrível ex Duda Itálica dos Teclados, acompanhados pelos INI sangue boníssimos, os irmãos Ronconi e mais uns 3 ou 4 sobreviventes da apresentação do INI. Para a Jane Dope foi interessante, nos sentimos como fazendo um ensaio aberto para amigos queridos, tocando os 4 sons do EP, versões remodeladas para a nova formação “de 4” (uiui) da Nap e Radiograve, além das novas Jane Dope: A Diamond On The Road, Oh Ann e MissJeeJee que deverão também fazer parte de nosso próximo trabalho de estúdio. Por ser o primeiro show com a formação nova “de 4” com nosso grande (enooorme) Eder Odorizzi, acreditamos ter cumprido nosso papel junto à puta Jane, apesar dos erros que são naturais e os palcos estão aí para isso mesmo, para improvisarmos a vida.



A volta para casa enfim ao som do novíssimo Heligoland pra acalmar a gurizada, o pitstop já tradicional no Frango Assando, os pedágios e serras, a entrega da rapeize e a chegada em casa no alvorecer dominical de uma fria manhã de junho não mentem: a satisfação e o zunido no ouvido adquiridos indicam que chegamos de mais um Festival Lumière. E julho está batendo em nossas portas com Lumière em Pinda na Choperia Óbvio em dose dupla (dias 03 e 04) e na semana seguinte em Mogi na Divina Comédia (dia 10). E então, vai ficar aí paradão?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

19/06/2010 - FESTIVAL LUMIÈRE EM TAUBATÉ!

Bandas:
The Vain (Taubaté)
Maquiladora (Mogi)
Seamus (Taubaté/Pinda)
INI (Sorocaba)
Jane Dope (Mogi/SP)

Discotecagem: Gabriel Ronconi

Exposição de Fotografias:
Carol Ribeiro (SP)
Stefano Martins (Pinda)
Oswaldo Corneti (Pinda)

Local: Bebop Music Bar
R. Coronel Marcondes de Mattos, 128, Centro, Taubaté.

Às 20h.

Entrada a R$5.

[Arte: Luis Meteoro]

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BEQUADRO MOSTARDA NO MUNDO:

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Siga: @bequadromostard

Mypace (Novidades e audio das bandas vão tocar nos eventos do coletivo)
http://www.myspace.com/bequadromostarda

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SINFONIA DE CÃES

Texto:

Fotos:
SINFONIA DE CÃES
05.06.2010



E é claro que nos perdemos pra chegar na Garagem dos Cães. Aí que fomos pela Marginal Tietê. Sofrível. Se ainda não passou por lá, você não sabe a zona que estão umas faixas. Aí você tá indo, de repente aquela faixa que você achava que ia pra um lado começa a virar uma entrada pra uma ponte e aí quando você vê já era. Perfeito. Porra, Kassab!

Enfim, deu errado mas depois até que deu certo, quando do nada surge uma placa “Jardim Japão”. Aí fizemos uma manobra canta pneu mirabolante e acertamos o rumo. Pra evitar erros maiores paramos em um posto pra tirar as dúvidas: “moça, é por aqui que chega no Jardim Japão?”. “Ixi... Marinélsa, é você que mora por ali?” “Eu!? Sei não...”. Maravilha...

Quando chegamos na garagem dos cães já tinha uma galera ali, as Maquiladoras passando o som, Roger e Carol recebendo o povo, Loucas estampando umas camisetas, lanchinho, cervejinha. Tudo a lá Milton Leite: ‘que belêêêza..”

E não é que a Garagem é mó estilósa? O pico é uma área totalmente residencial, é uma casa daquelas com jardim gigante, garagem gigante, área pra trocar idéia, cadeirinhas, etc. Parece mais uma Chácara dos Cães, vai vendo.

Dando um rolê pela fauna você podia trombar os Seamus articulando planos de dominação – o Bôe com camisa do Osasco era puro detalhe, as Maquiladoras contando da virada cultural em Mogi e de quando elas tocaram no mesmo palco do Mudhoney e que depois ainda teve matéria no Metrópolis da TV Cultura – vai vendo... Tinha também os Hierofantes que trombaram de frente com a pulíça mogiana no lance do Gerador Rock e o Kbeça documentando tudo e o Danilo dizendo no microfone que os cara não tavam querendo deixar eles tocar e aí a galera incendiou e começou a pesar na pulíça. Sensacional! Roger que vai sair com seu trampo xtreme blues dog pra um rolê nervoso pelo sul e vai até o Uruguai fazer um som. O Bequadro Mostarda que tá num corre de dar inveja e parece que vem coisa fu-di-da por aí. Ou seja, encontrar os amigos é sempre uma festa, dizaê.

Sim, tinha uma pá de banda, ia rolar shows etc e tal. Mas a pegada ali não eram os shows em si, o lance era a gente estar participando de uma história que começou há uns 6, 7 anos. Quando umas almas perdidas resolveram negar a normalidade das coisas e ir e fazer a sua própria história. Mesmo que isso pra muita gente seja apenas uma ilusão. Foda-se, truta. A gente precisa de ilusão, sim!

E quando a gente conheceu esses caras, lá na Galinhada do Bahia, debaixo da mó chuva, com palco pingando, cachoeira no meio da pista, todo mundo no corre, com a maior satisfação do mundo, aquilo ali deu um baque fudido. Eles tinham algo que nos fisgou na hora: Porra, eles se arriscavam! Eles eram gente sem aquela mentalidade de vítima tão característica no rock. E foi assim, que a partir dali, criamos uma brodagem pra lá de sem vergonha que dura até hoje.

Foi um dos momentos mais incríveis na nossa história, porque foi a partir daí que começamos a achar nosso lugar como banda, pois até então a gente sempre foi meio que patinho feio, saca? Nossos rolês e shows iam pela linha convencional, no caso. Tocávamos com bandas cover – mas ó, tudo bem o cara fazer um cover, tirar uma grana e tal. Isso sim é digno! Mas quando você tem seu trampo e tem de tocar uma “que os cara gosta” só pra fazer média, aí é deprê, vai...

Enfim, aí tocávamos em casas que você tinha que mandar cd, cortejar alguém, lugares bacanudos, gente que topava tudo por uma notinha no jornal, que queria “virar”, que trocavam sua integridade por uma palavra que não “pegasse mal” com alguém na mídia, gente que queria fazer a banda virar um negócio, um emprego, saca? Todo mundo tinha “seu público”, amigos influentes, gente que fazia tudo tão bonito que dava até inveja do profissionalismo. E nos rolês sempre nos disseram que nossa lógica de trabalho não ia dar em nada e que a gente tava se iludindo ao ir “contra a corrente”. Pois é, desde sempre, baby.

Mas talvez nosso maior problema é que sempre fomos muito mal organizados mesmo. Sempre preferimos ficar na mesa do boteco ao lado rindo com os amigos a ficar fazendo social, contatos, indo nas festas certas. Só que a gente não é assim por implicância, esse é nosso jeito, é como a gente funciona e sempre soubemos que um dia íamos encontrar nossa turma.

E quando conhecemos esse povo foi como se tivesse sido escancarada uma janela de possibilidades. Por exemplo, foi por intermédio deles que conhecemos uma infinidade de bandas autorais, muita gente que viria a ser nossos amigos até hoje, fizemos shows incríveis, acertamos, erramos, e ainda tivemos o prazer de participar de eventos com uma dose de emoção indescritíveis como a Invasão no Prestes Maia e mais recentemente o Cicas. E todos com uma dose cavalar de entrega, que sempre nos encorajou a ir mais e mais além.

Ah, os shows foram todos muito classe, todo mundo animado, gente cantando as músicas, fotografando, filmando e pedindo música. Apareceram até os Avon, parentes lá do Carlão de Curitiba, Paty Mori também tava lá junto ao pessoal de Mogi e por aí vai.

E é isso.

Olha só, pra nossa salvação, mesmo que o rock independente tenha se tornado um gigantesco circo, ainda temos gente que se recusa a ser conivente. E desde o nosso segundo Sinfonia de Cães, lá na Galinhada do Bahia, descobrimos que todos os cães são de outro planeta. E eles são os nossos heróis.

Um brinde, félas!